dúvidaas ?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Vó Maria.

Minha avó, tinha os cabelos da cor das nuvens, os olhos da cor do céu, e um coração maior do que o mundo.
Me lembro que quando era menor, ela me cobria à noite, me lembro de como adorava comer uma galinha cozida que só ela sabia fazer, não conseguia passar um dia de chuva sem comer aquele feijão quentinho com arroz, lembro de quando eu saía na rua pra brincar com meus amigos debaixo de chuva, e ela ficava a me admirar pela janela, é como se ela ficasse ali para garantir que eu estava bem, e quando eu voltava para casa, ela tratava de me enrolar com uma toalha seca, e dizia "tira essa roupa, senão vai pegar gripe minha filha", lembro de como ela pronunciava meu nome-Jôce- lembro também das vezes em que ela dormia pela manhã, e acordava de tarde e me perguntava se eu não ia ter aula, lembro de ficar na beira da panela enquanto ela cozinhava, tentando descobrir qual era a "fórmula secreta" da comida dela, lembro de que quando chegava da escola eu corria pra assistir TV, e deixava meus sapatos sujos de terra molhada na porta, e me lembro que ela sempre colocava meus sapatos no lugar e perguntava se eu não queria almoçar, e sempre desfiava a galinha pra mim.
Lembro de que quando caía a noite, ela pegava seu terço que cheira a talco de bebê-e até hoje cheira-e toda noite rezava com seu terço na mão, e assistindo o Jornal das 8hrs, mesmo surda, ela gostava de assistir o jornal, e sempre chamava o jornalista de "moço bonito", lembro-me de ouvir as mesmas histórias um milhão de vezes, lembro que ela sempre falava do irmão-Caetano- e lembro que as vezes ela chorava muito com saudade de seus pais, lembro que eu gostava de brincar com suas banhas que ficavam na parte de baixo do braço, e lembro de como ela ria sem parar quando eu fazia isso, e dizia "ah, minha filha, um dia tu também vai ter isso", e eu entortava a cabeça, confusa por não conseguir me imaginar velhinha desse jeito, me lembro dela sempre arrumando a casa do jeito que só ela sabia arrumar, e sempre reclamava por isso, mais não conseguia não fazer nada o dia inteiro.
Minha vó foi uma guerreira, teve câncer no estômago, viveu sua velhice sem estômago, ficou surda muito cedo, criou minha mãe como se fosse filha, teve 5 filhos: Safira, Pérola (falecida), Esmeralda, Ocemir e Océlio.
Suportou a morte de sua filha, e sempre me dizia que não devemos chorar em público, neste dia, eu a vi chorando. Sempre feliz e com um sorriso no rosto, adorava tomar seu café todos os dias, lembro que comia carne com colher e faca, e eu sempre perguntava à minha mãe porque ela comia assim.
No dia 18 de Janeiro de 2009, ela faleceu, na UTI do hospital "Centro Médico", devido a uma queda, onde ela quebrou a bacia, e em cerca de duas semanas, seu quadro clínico piorou, e a levou para a UTI, 5 minutos antes do falecimento, nós nos 'despedimos' dela, fizemos uma oração em volta do seu leito, e com os olhares penosos dos médicos daquele local, nós deixamos a sala de UTI, quando saímos, o médico nos disse para esperarmos...
2 minutos depois, ela faleceu, e foi uma correria, todos chorando desesperadamente, e eu ali, imóvel, sem esboçar reação alguma, sem saber o que fazer e pra onde correr, me espantei por não haver nada em minha cabeça, nem uma recordação, nem um pensamento...nada!
Me chamavam de fria por não conseguir chorar, e por pensar em outras coisas, mais hoje percebo que eu só queria fugir daquilo tudo, e me transportar para aquele dia em que no leito do apartamento, ela me agarrou pelo braço, e me olhou nos olhos, puxou meu rosto e me deu um beijo, só queria fugir daquilo tudo e ir para um lugar aonde eu ainda a teria comigo.
Minha vó, se chamava Maria Arcângela Furtado, mais conhecida como 'vóvó' . Eu sempre irei me lembrar de você, por mais que não hajam lágrimas em meus olhos, sempre haverá saudade em meu coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário